sábado, 25 de junho de 2011

Atividades psicomotoras no contexto escolar



Joselma Lima, Queila Dourado, Severiana Rocha
Da civilização oriental à civilização ocidental, passando pela Idade Média, até aos nossos dias
, a significação do corpo sofreu inúmeras transformações. Porém, apenas no século XIX o
corpo começou a ser estudado. No Brasil, nos anos 60, com o advento da psicomotricidade,
era utilizada em forma de recursos coadjuvantes à outras especialidades. Em nível de graduação

o “latu sensu”, a psicomotricidade surgiu em 1990 no IBMR (currículo adaptado da formação na
França).
E o que é psicomotricidade? Assim conceitua a S. B. P.[1]:
“Ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em
relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, 
agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Portanto, é um termo empregado para 
uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas
pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.”
Segundo BERRUEZO[2] (1995):
“Psicomotricidade é um foco da intervenção educacional ou terapia cujo objetivo é o
desenvolvimento da capacidade motriz, expressiva e criativa a partir do corpo, o que o
leva centrar sua atividade e se interessar pelo movimento e o ato, que é derivado de
disfunções, patologias, excitação (estímulos), aprendizagem, etc.”
O progresso das ciências biológicas e da saúde têm prometido e permitido ao homem uma
vida melhor. Essa importância dada ao corpo, através das atividades psicomotoras, observando
estreita relação entre corpo, mente, movimento e pensamento, promovem bem-estar físico e
mental
ao indivíduo. Essa idéia de movimento surgiu decorrente da concepção fundamental de que a
atividade 
motora e a mental estão em constante inter-relação podendo uma influenciar beneficamente no
desenvolvimento
global da outra, numa tentativa de compreender o ser humano em sua unidade e globalidade.
Henri Wallon[3] é, provavelmente, o grande pioneiro da psicomotricidade, vista como campo
científico. Ele iniciou
(1925) uma das obras mais relevantes no campo do desenvolvimento psicológico da criança. 
Como médico
, psicólogo e pedagogo, impulsionou as primeiras tentativas de estudo da reeducação
psicomotora.
Wallon e Piaget[4] colocam em evidência o papel da atividade corporal no desenvolvimento
das funções
cognitivas. WALLON (1942) afirma que o pensamento nasce da ação para retornar a ele.
PIAGET (1936) sustenta
que, mediante a atividade corporal a criança pensa, aprende, cria e enfrenta problemas de
sua vida cotidiana.
No âmbito escolar, podemos verificar que há alunos correndo, brincando e participando de
todos os jogos
propostos, apresentando às vezes dificuldades, que podem ser sanadas mediante interação 
da criança com
atividades que favoreçam ampliar seu potencial psicomotor, cognitivo e afetivo.
“Os motivos dessas dificuldades são diversos, e vão desde problemas mais sérios 
de incapacidade intelectual, até pequenas desadaptações que, quando não cuidadas, se 
transformam em verdadeiros obstáculos para uma aprendizagem significativa.” (OLIVEIRA,
1997)
Existem alunos que apresentam déficit no desenvolvimento das funções neuropsicológicas
devido a vários fatores, como má alimentação, doenças patológicas, perturbações emocionais,
entre outros, e isto pode influenciar no seu aprendizado.
“Muitos professores, preocupados com o ensino das primeiras letras, e não sabendo
como resolver as dificuldades apresentadas por seus alunos, várias vezes os encaminham 
para as diversas clínicas especializadas que os rotulam como “doentes”, incapazes ou 
preguiçosos. Na realidade, muitas dessas dificuldades poderiam ser resolvidas dentro da
própria escola.” (OLIVEIRA, 1997)
Deve-se notar, no entanto, que não se pretende que o professor faça sessões de psicoterapia
com o aluno. Uma ação pedagógica faz-se necessária enfocando uma educação
global, respeitando as potencialidades e limitações do grupo.
Desde o início da vida, a criança passa pela fase de vivência corporal. Ela trabalha seu
corpo em busca de respostas. Nesse período, a criança – através dessa movimentação
– vai enriquecendo a experiência subjetiva de seu corpo, ampliando assim as 
potencialidades motoras espontâneas e coordenadas.
Considerando a criança como ser integral desse processo, cabe à escola criar o máximo 
de situações onde ela interaja de maneira atrativa e prazerosa, com atividades 
que favoreçam o seu amadurecimento psicomotor.
Segundo LAPIERRE (1986), a educação psicomotora tem por objetivo não só a descoberta
do seu próprio corpo e capacidade de execução do movimento, mas ainda a descoberta
do outro e do meio ambiente, utilizando melhor suas capacidades psíquicas, facilitando
a aquisição de aprendizagens posteriores.
É através da atividade psicomotora, principalmente nos jogos e atividades lúdicas que a
criança irá explorar o mundo que a cerca, diferenciando aspectos espaciais, reelaborando o
seu espaço psíquico, ligações afetivas e domínio do seu corpo.
Se o professor desenvolve sua prática tendo por referência teórica a idéia de que o 
conhecimento é construído pelo aluno em situações de interação, precisará dispor de
estratégias que ajudem a compreender o que cada um já traz consigo, elevando suas
potencialidades.
Daí, também, a importância da escolha das atividades curriculares. Elas devem contemplar 
a psicomotricidade a partir de uma relação entre o conhecimento prévio do professor
frente às etapas do desenvolvimento motor infantil.
Piaget trata das fases motoras da criança desde seu nascimento. Um bebê sente o meio 
ambiente como fazendo parte dele mesmo. À medida que cresce, com um maior 
amadurecimento de seu sistema nervoso, vai ampliando suas experiências e passa,
pouco a pouco, a se diferenciar de seu meio ambiente. Chega, pois, à representação dos 
elementos do espaço, descobrindo formas e dimensões e com isto passa a aperfeiçoar e 
refinar seus movimentos adquirindo uma maior coordenação dentro de um espaço e tempo 
determinado.
A psicomotricidade surgiu, enfim, como um meio de combater a inadaptação psicomotora
pois apresenta uma finalidade reorganizadora nos processos de aprendizagem de gestos
motores. É um alicerce sensório-perceptivo-motor indispensável na contribuição do
processo de educação e reeducação psicomotoras, pois atua diretamente na organização 
das sensações, das percepções e nas cognições, visando a sua utilização em respostas
adaptativas previamente planificadas e programadas.
Acreditamos que o educador não deve se preocupar só com a aprendizagem específica 
de determinada tarefa. Existem dificuldades que resistem a uma pedagogia normal. É por
isto que acreditamos que é melhor “prevenir que remediar”, isto é, ele deve – antes de mais
nada – promover condições para esta aprendizagem se torne satisfatória. O professor deve 
ser sempre aberto às indagações e dúvidas, tratar os alunos com respeito e consideração,
respeitar o ritmo de cada um.
Acompanhar a criança num processo psicomotor, possibilita-lhe a uma melhor estruturação 
tanto mental quanto corporal. De posse a uma pedagogia que dê lugar a criatividade,
a espontaneidade, conseqüentemente, a criança fortalecerá sua auto-estima, realizará 
novas descobertas, construirá relações de confiança consigo mesma e com os outros, e 
avançará nos demais aspectos, tanto cognitivos quanto motores.
Concluímos com OLIVEIRA (1997):
“Não adianta somente discutirmos os porquês das dificuldades de aprendizagem. É preciso 
propor caminhos que possam, se não solucionar, pelo menos diminuir alguns destes problemas 
que são tão dolorosos para a criança – como ver suas chances diminuídas por problemas que
são alheios a ela.”
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERRUEZO, Pedro Pablo. Retirado em 20 de novembro de 2004, de: 
http://www. navinet.com.br/~gualberto/
FONSECA, Vítor da. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica
dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 2002. 8ª edição.
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. (Educação e conhecimento).
LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. / 
Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira, Heloysa Dantas. São Paulo: Summus, 1992.
LAPIERRE, A. e AUCOUTURIER, B. A simbologia do movimento: psicomotricidade e 
educação. Trad. de Márcia Lewis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
LAPIERRE, André. A educação psicomotora na escola maternal – uma experiência com os 
“pequeninos”. Trad. de Ligia Elizabeth Henk. São Paulo: Manole Ltda., 1986.
OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num 
enfoque psicopedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
OLIVEIRA, Sonia Onofri. Retirado em 20 de novembro de 2004, de:
http://www.gota.com.br /frame/news_read.pl?id=4
REGO BARROS, Darcymires. A reeducação Psicomotora na Terceira Idade. Tese de 
Concurso Público em Livre Docência. Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 1992.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. Retirado em 20 de 
novembro de 2004, de: http://www.psicomotricidade.com.br/


[1] Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, criada em 1980.
[2] Pedro Pablo BERRUEZO. Madrid, 1995.
[3] Parisiense, viveu de 1879 a 1962. Presidiu a reforma do ensino francês, de teor tão 
avançado que permanece até os dias de hoje parcialmente irrealizada.
[4] Jean Piaget(1896-1980) psicólogo suíço. Ele e seus colaboradores publicaram mais de 
trinta volumes sobre os processos de construção do pensamento nas crianças.

Publicado em 13/12/2004
 

Um comentário: