domingo, 24 de abril de 2011

A falta de atenção na infância cria desequilibrados no futuro




José Irineu Nenevê
          
“Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque deles é o reino de Deus” (Jesus em Lucas 18,16).
O investimento mais lucrativo de uma nação é nas crianças. O mundo ficou perplexo no dia 07 de abril pela crueldade de um demente contra crianças indefesas em uma escola do bairro de Realengo na Cidade do Rio de Janeiro. Tentar entender as razões é quase impossível, pois elas não existem. Culpar elementos externos, como controle de armas, polícia nas escolas, dentre outros é fugir do problema que é interno, de foro íntimo da pessoa. Tivemos exemplos em outros países, são pessoas desequilibradas que buscam uma forma de chamar a atenção, por se sentirem preteridas. Quando a pessoa se fecha em si mesma, sem ter com quem dividir suas angústias e seus medos, é semelhante a uma panela de pressão com defeito no módulo de escape e na válvula de segurança, se continuar no fogo uma hora vai explodir e coitados dos que estiverem por perto. Quantos já perderam o controle por coisas banais quando estavam sobre intensa pressão? Esta pressão acontece em todo lugar, no serviço, em casa, na declaração do imposto de renda, na cobrança por resultados, quando pedem mais do que possamos fazer ou quando falta reconhecimento de nossas ações etc. Muitos superam sem dificuldades, mas outros se machucam muito.
 Certa ocasião, ouvindo uma preleção sobre as conseqüências nos adultos de maus tratos na infância, o palestrante demonstrou isso. Chamou um voluntário até o palco e falou com autoridade, mas sem gritar, que ele ficaria mudo toda vez que visse um triangulo. Todos riram inclusive o voluntário, pois isso era sem propósito e quase impossível de acontecer. Então ele pediu que o voluntário contasse a partir do numero um em ordem crescente. Prontamente foi atendido e toda vez que ele desenhava um triangulo no quadro este ficava mudo. Ao apagar ele continuava sem entender o que aconteceu. Depois desta demonstração, disse que era só uma brincadeira e que ele estava normal. Logo ele concluiu: o modo como falamos, principalmente com as crianças, marca para sempre. Fazemos sem perceber. Elas por estarem em formação de seu caráter, sentem mais isto. Também as agressões feitas por colegas deixam seus traumas. As crianças vítimas de “bullying” (violência física ou psicológica), se faltar apoio para se recuperarem, guardarão estas “cicatrizes” para o resto de suas vidas.
 Temos um papel importante no futuro das crianças. Se por razões profissionais nos afastamos de seu convívio durante a maior parte do dia, temos que compensar isso de alguma forma, dando principalmente atenção e carinho. Agora imagine o caso das crianças que estão sem família, perdidas no tempo e no espaço, ou que foram adotadas e perderam sua referência de lar, que futuro as espera? Precisamos resgatar estes pequeninos sem os embaraçar. Penso que a escola poderá ser seu apoio. Por isso é necessário ir além do ensino acadêmico nas escolas. Temos que ajudar estes pequenos a crescerem em seu caráter, a desenvolverem seus talentos, a terem apoio em suas dificuldades, a investirem na “saúde física e mental” de seus lares, e na falta destes, sentirem-se acolhidos na comunidade, para que jamais se forme outro demente como esse de Realengo. Os professores deverão ser respeitados por seu amor na tarefa de educar, fazendo brotar em cada criança seu amor pela vida. O modo como tratamos as crianças hoje fará surgirem os adultos de amanhã. Semeie amor em seus pequenos corações para colher alegria.

José Irineu Nenevê
Filósofo e teólogo, autor do livro “Bom dia e Bom trabalho”

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